terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Despesca- Tilápias viram exemplo de Cidadania






Tenho me ressocializado e aprendido uma profissão. A rotina do presídio mexe com o psicológico, quando você está fechado numa cela, seu pensamento fica fixo e aqui cuidando dos peixes é como se eu estivesse livre. O estado psicológico melhora bastante”, afirma o detento Júnior Roberto da Silva, de 31 anos, que faz parte do projeto que oferece capacitação em piscicultura a presidiários na Penitenciária Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves. “Para aqueles que não têm uma profissão e querem mudar de vida essa é uma grande oportunidade. Minha família fica muito feliz, é uma nova profissão que estou aprendendo e futuramente posso até ter meu próprio negócio” acrescenta Júnior.
O projeto é uma parceria entre a Escola de Veterinária, a Secretaria de Defesa Social de Minas e o Ministério da Pesca e da Aquicultura. Na última terça-feira, 7 de fevereiro,  aconteceu a primeira despesca dos peixes que estão sendo criados desde julho do ano passado, quando os primeiros 1500 filhotes de Tilápias foram colocados no açude do presídio. "O projeto é um iniciativa muito positiva, tanto para a sociedade quanto para a Escola. Somos uma instituição pública e tudo que é revertido a favor da sociedade, é também um papel nosso. É também uma possibilidade de inserção dos nossos alunos nesse processo de recuperação dos detentos. Pretendemos dar continuidade a essa iniciativa”, afirma José Aurélio Garcia Bergmann, diretor da Escola de Veterinária.
O professor Edgar de Alencar Teixeira, responsável pela capacitação técnica dos presos, afirma que mesmo se não trabalharem com criação de peixes quando saírem da cadeia, os detentos terão mais uma oportunidade de carreira a seguir. “Eu não acho que todo mundo vai sair daqui e trabalhar com o peixe. Mas é mais uma oportunidade para eles lá fora. É uma área a ser explorada, pois tem pouca gente capacitada para isso”, analisa.
Ao todo foram selecionados oito presos que estão tendo a oportunidade de aprender, passar um período fora das celas e reduzir o tempo da sua pena de acordo com o período trabalhado. A cada três dias trabalhados é reduzido um dia de reclusão.
O diretor geral do presídio, Rogério Dias de Freitas, revela que houve uma mudança de comportamento entre os presos que estão participando e há um grande interesse entre aqueles que ainda não participam. “A aceitação tem sido muito positiva. Vários outros presos tem vontade de participar. Temos a intenção de aumentar o número de detentos participantes e já até recebemos a doação de mais dois tanques. O projeto visa o ser humano que existe além do ser que cometeu uma infração e isso é essencial. Nossa iniciativa é um exemplo e será copiado em outras unidades. Muitos presos vão sair daqui com o emprego garantido. E é muito gratificante saber que os peixes serão doados para instituições de caridade como creches e asilos”, conclui.
O governador Antônio Anastasia destacou o valor duplamente social do projeto. Primeiro, a possibilidade de recuperação do preso, com capacitação e qualificação do ensino de uma profissão. Segundo, a produção e um alimento de alto valor e qualidade nutricional cujo destino será as entidades sociais do município. E afirmou que a despesca é um ato simbólico, mas extremamente significativo. “Nós estamos dentro de uma unidade prisional, um lugar que no passado era destinado exclusivamente às punições e sem nenhuma perspectiva de recuperação. Hoje o que é fundamental é dar a estes presos a oportunidade de recuperação. É um projeto simples e barato, mas com efeitos positivos em vários segmentos”.
Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira, ministro da pesca e aquicultura, afirmou que é um projeto que merece ser implantado em todo o país e destacou a participação da UFMG nele.  “É uma experiência pioneira e tenho muita esperança que possa ser copiada em outros estados. Agradeço o trabalho da UFMG que qualificou os detentos para essa atividade. Queremos consolidar essa parceria para que a universidade possa treinar também os nossos municípios, próximos a lagos e reservatórios, que queiram entrar num ramo viável economicamente”, afirmou.
O secretário de estado de defesa social, Lafayette Andrada, destaca a importância da ressocialização dos presos e a intenção de ampliar o projeto. “Trabalhamos com o conceito de que o detento não pode ser um peso para a sociedade. Mais de 40% dos presos no Estado hoje trabalham em parceria com mais de 300 empresas. Existem alguns presídios do interior que têm reservatório e são eles os alvos iniciais do projeto. Este aqui é piloto e mesmo com a equipe reduzida conseguimos a produção de mais de uma tonelada de peixe, o que mostra que é um projeto altamente produtivo”, afirma.


Postado por Sônia Leite

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