sexta-feira, 13 de julho de 2012

Faculdade de Minas Gerais recebe alunos presidiários


Por Yuri Bobeck

O número de presos no Brasil registrou um aumento de quase 500% em 22 anos. Em 1990, a população carcerária no país somava 90 mil presidiários, e em 2012 já ultrapassa 520 mil presos, de acordo com dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Já as penitenciárias não tiveram sua capacidade aumentada nesse período. Segundo balanço divulgado pelo Depen, no primeiro semestre do ano passado o número de presos no país era 69% maior do que a capacidade dos presídios, dado que demonstra total falta de estrutura para abrigar tamanho contingente.

Porém nem tudo são más notícias, e de Minas Gerais vem um bom exemplo. Pelo segundo ano consecutivo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi aplicado para presidiários que se inscreveram para a realização das provas, o Enem Prisional. Dos 640 presos que fizeram o exame, cinco foram selecionados pelo programa Universidade Para Todos (Prouni), que concede bolsas de estudo para o ingresso em instituições de ensino superior. Dois deles, Roberto da Silva Pereira e Arllan Gonçalves Martins, que cumprem pena na Penitenciária José Maria Alkmin, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, foram aprovados no curso de Ciências Econômicas, na modalidade de Ensino a Distância, da Faculdade de Estudos Administrativos (Fead).

Fernanda Waller, coordenadora do núcleo de EaD da faculdade, disse que não é a primeira vez que a instituição recebe um aluno presidiário, já que no ano passado um detento foi aprovado no curso de Turismo. Ela salientou que além da bolsa concedida pelo Prouni, a faculdade oferece outros programas de apoio. “Além do programa criado pelo Governo Federal, a Fead também oferece bolsas de estudos, pois apóia toda e qualquer iniciativa que tem como objetivo o crescimento pessoal e profissional, o que possibilita oportunidades no futuro.” Sobre a integração destes estudantes na faculdade, a coordenadora afirmou que não há nenhum tipo de distinção, já que os alunos estudam na modalidade a distância e mantêm contato com os professores somente via internet, e que a faculdade não divulga as condições sociais dos alunos. Questionada se a instituição receberia um aluno presidiário num curso presencial, ela afirmou que sim, “desde que haja autorização judicial para cursar na modalidade presencial”, afirmou Fernanda.

Roberto da Silva Pereira, de 28 anos, que cumpre pena no regime fechado, disse que a penitenciária oferece apoio para aqueles que desejam continuar os estudos e que conta com uma pedagoga para acompanhá-los, mas reclama da falta de estrutura. “Ainda não temos um espaço físico adequado, pois hoje estudamos dentro da sala do núcleo de ensino do presídio e estamos aguardando ficar pronta uma sala de informática onde teremos mais condições de uso do computador e acesso a internet.” Pereira também comentou sobre seus planos para o futuro, agradecendo à família pelo suporte nos momentos difíceis. “Penso em concluir o ensino superior, elevar minha fonte de conhecimento, pois é através do ensino que vou ter melhores oportunidades para buscar um futuro melhor para eu e minha família. Se não fosse pelo apoio e sacrifício deles, não teria conseguido chegar até aqui”, disse Pereira

Colega no curso de Ciências Econômicas, Arllan Gonçalves Martins, 24, que está no regime semiaberto, disse que além do apoio da mãe, os professores do núcleo de ensino do presídio sempre o incentivaram a realizar a prova do Enem para ter a chance de entrar na faculdade. E ele não pensa em para de estudar. “Tenho muitas perspectivas para o futuro através dos estudos. Vejo que posso ir além, amadureci e aprendi que a vida requer esforço e perseverança naquilo que desejamos conquistar”, concluiu Martins.

A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) de Minas Gerais informou ainda que os detentos que decidem estudar nas unidades prisionais mineiras tem uma redução na pena. Para cada 12 horas de estudo, é diminuido um dia da pena a ser cumprida.

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